Ana Rosa Cloclet da Silva (PUC-Campinas), Ceci M. C. B. Mariani (PUC – Campinas) e Breno Martins Campos (PUC-Campinas)
Tema:
O Simpósio visa agregar contribuições de pesquisadores que têm se debruçado sobre o clássico – porém atual – debate acerca do fenômeno da secularização, investigando seus desdobramentos na construção das doutrinas, instituições e práticas discursivas, que modelaram a construção da modernidade ocidental. Neste sentido, dialoga com estudos que visam problematizar a natureza do próprio objeto de estudo, reinstaurando a pertinência de uma abordagem científica e multidisciplinar sobre o tema das tradições religiosas e espiritualistas, revelando o quanto estas conviveram e mesmo legitimaram algumas das dimensões políticas e culturais modernas e contemporâneas.
O intuito deste Simpósio Temático é proporcionar e explorar a relação existente entre as narrativas, a literatura e a religião. Embora cada um destes saberes têm suas particularidades nas áreas de pesquisas acadêmicas, percebe-se que há uma tendência, nas últimas décadas, em aproximá-los interdisplinarmente. A religião se fundamenta e se estrutura a partir da linguagem humana. A religião não é apenas um conjunto de regras e dogmas, mas é narrativa, é poesia, é texto e literatura. Há muitas linguagens na(s) religião (ões). Se pensarmos a partir do mito (mythos) como narrativa, veremos que ele é a gênese ou a pré-história tanto da religião quanto da poesia. Neste sentido, é possível o encontro entre as narrativas, a literatura e a religião, num processo dialógico, polifônico, intertextual e polissêmico. Os textos sagrados são também textos literários e textos literários também podem contribuir para uma reflexão do universo religioso. Este diálogo enriquece a ambos.
José Benedito de Almeida Júnior (FAJE) e Manoel Messias de Oliveira (PUC – GO)
Tema:
O objetivo desse Simpósio Temático é congregar pesquisadores das áreas de Ciência da Religião, Teologia, Psicologia e Filosofia da Religião que investiguem os fenômenos da mística e seus efeitos em termos de transformação pessoal. Tanto os estudos sobre as epifanias espontâneas – provocadas, em geral, por profundas crises pessoais – quanto aquelas provocadas por mistagogias, como Exercícios Espirituais de diversas correntes – em especial, os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola – interessam para este Simpósio Temático. Via de regra, as epifanias apresentam-se em forma de visões, audições, experiências sensoriais e outros meios de manifestação. É possível, pois, perceber alguns arquétipos que se repetem na narração dessas experiências e o objetivo é interpretá-los a partir de estudos comparados. Para tanto, nossa proposta é que as experiências sejam analisadas do ponto de vista da linguagem simbólica. Serão bem vindas propostas que utilizem como referência as noções de símbolo de Carl Gustav Jung, Sigmund Freud, Gilbert Durand, William James, Mircea Eliade, Joseph Campbell e outros teóricos. De todo modo, estamos abertos a propostas que, mesmo partindo de outros pontos de vista, possam dialogar com as desse Simpósio Temático.
Jaqueline Zarbato (UFMS) e Diógenes Braga Ramos (PUC/SP)
Tema:
Este simpósio propõe agregar discussões acerca da Ciência da Religião e suas aplicabilidades nas discussões relativas as religiões e suas expressões. Entendemos que a Ciência da Religião colabora diretamente nos aspectos sociais, através do diálogo e mediação de conflitos culturais e religiosos. Com isso, pode ser aplicada de forma multidisciplinar com interfaces nas perspectivas internacionais, no ensino religioso, no turismo, na pastoral, na teologia, na literatura além das questões pouco exploradas com relação a memória, ao patrimônio cultural e a oralidade, dentre outras áreas que ainda podem ser discutidas e agregadas neste viés, pois ainda a área está em construção a partir das subdisciplinas da Ciência da Religião. Salientando a importância da Ciência da Religião Aplicada na busca do diálogo, e de apresentar uma visão ampla das várias tradições religiosas. Sempre de forma neutra e com viés acadêmico priorizando as construções teóricas e metodológicas da discussão com as religiões no desafio da aplicação destas em diálogo com a sociedade e a cultura
Renate Brigitte Michel (PUCPR-BR), Claudia Lúcia Menegatti (PUCPR-BR) e Cloves Antonio de Amissis Amorim (PUCPR-BR)
Tema:
As relações entre o uso de estratégias de enfrentamento baseadas nas questões de religiosidade / espiritualidade e saúde estão cada vez mais amplamente descritas na literatura, especialmente em situações de adoecimento grave e nas doenças crônicas. Este Simpósio Temático propõe-se a discutir as relações entre religiosidade/espiritualidade e a psicologia da saúde a partir das seguintes questões: como os currículos dos cursos de Psicologia consideram os aspectos espirituais / religiosos em suas disciplinas e instrumentalizam o estudante para observar esse fenômeno nos contextos de atendimento à saúde? Como os aspectos religiosos/espirituais são considerados na abordagem dos familiares de pacientes com alto risco de vida nas UTIS? E, finalmente, como os psicólogos avaliam o papel dos aspectos espirituais e religiosos no contexto da morte e do luto? Esses temas pretendem lançar a discussão dirigida para a ampliação do atendimento psicológico na área da saúde, compreendendo-a efetivamente como fenômeno biopsicossocioespiritual.
Pretende-se contribuir para que se viabilize a ruptura com o paradigma vigente através da apresentação de contributos assentes em propostas radicadas nas Cosmovisões a “Oriente”.
Poderemos continuar a pensar a “felicidade genuína” como resultante de impulsos hedónicos que surgem na consequência de estímulos agradáveis exteriores, ou simplesmente, como o resultado de todo um processo de florescimento das potencialidades da mente humana? De um certo ponto de vista, esse processo inicia-se pela maturação ética alinhada com a virtude que subjaz e se difunde nos estados emocionais que ocorrem, complementados pelo acolhimento de todas as imprevisibilidades e vicissitudes da vida. Mas, na verdade, não será essa virtude uma intimidade que implica a prática ética, e que surge como inseparável da prática da meditação, em todo um percurso onde surgem esforço, atenção plena (mindfulness) e concentração (samadhi)?
Assumimos aqui que sem um reconhecimento teorético e prático das relações fundamentais da experiência vivencial – nas suas vertentes de impermanência e interdependência – muitos dos nossos movimentos radicam na separatividade. Sendo assim, poderão as atividades propostas pelas várias Cosmovisões a “Oriente” constituir-se nos dias de hoje como ferramentas passíveis de contribuir para uma transformação da mente-consciência da cada sapiens, contribuindo deste modo para um (re)equilíbrio significativo do Biótopo?
Cristina Duarte (ISCSP.ULisboa) e Hermano Carmo (ISCSP.ULisboa)
Tema:
Os sentimentos, as emoções, a vida espiritual, são parte constituinte do sujeito histórico e parte integrante do desenvolvimento humano. São também eles que manifestam se uma pessoa é “socialmente adequada” e permitem as relações e interações com outros. Seria impossível estabelecer qualquer tipo de relação de proximidade e ajuda sem a existência de sentimentos e emoções pois “qualquer mudança só é possível se conseguimos “cativar” emocionalmente as pessoas envolvidas” (cf. Sá, 2002). Seria impossível sem a existência de um sentido de ser. Uma ação puramente racional tornaria o ser humano semelhante a um autómato, conduzido por um programa de estimulo-reação sem que essa reação fosse imbuída de “coração”, ou seja, de sentir, ou que fosse imbuída de confiança.
Neste quadro, Miguel Castelo-Branco (2014), médico, neurocientista, num artigo intitulado Neurociências e espiritualidade, refere que “a medicina baseada na evidência tem sugerido que a religiosidade e a espiritualidade influenciam de forma efetiva o desenlace em muitos domínios clínicos, incluindo a dependência de droga (…) A experiência espiritual é benéfica para a saúde humana e o tipo de bem-estar psicológico que proporciona pode ser procurado ativamente” (cf. Castelo-Branco, 2014), da mesma forma que a experiência e o desenvolvimento de sentimentos e emoções positivas.
Neste sentido, as características apontadas pela inteligência emocional e pela inteligência espiritual (Goleman, 1995; Damásio, 2002; Zohar e Marshall, 2004 ; Torralba,2010) podem colaborar para entendermos em que medida os critérios da ciência e o modus operandi da fé podem convergir da mesma forma que podem colaborar para a (re)construção de novos
sujeitos históricos.
O Simpósio Temático visa reunir pesquisadores e profissionais que atuam no campo da pesquisa sobre novas formas de expressão de religiosidade. Busca colher dados acerca da plausibilidade de inserção religiosa nos treinamentos e workshops ministrados por empresas que lidam no ramo de treinamentos comportamentais corporativos. Pretende-se investigar se na metodologia aplicada pelas empresas existem traços de mitos fundantes, rituais, simbologia, aderência espontânea ou forçada que remetam a algum tipo de religiosidade. O campo de pesquisa se divide em duas vertentes, a primeira investiga as metodologias aplicadas por empresas do ramo de treinamento e capacitação comportamental corporativo, a exemplo das que aplicam amplamente a programação neurolinguística, coaching, constelação familiar entre outras técnicas, a segunda é compreender se os frequentadores de treinamentos comportamentais têm seus comportamentos religiosos ou não religiosos afetados pelos conteúdos recebidos nos treinamentos. Considerando que o campo religioso a ser investigado está inserido em uma grande seara de disputas de lugares sociais e poder secular, destacar e refletir sobre qual interferência há na religiosidade daqueles que participam dos treinamentos corporativos torna-se útil para compreender a dimensão social do potencial de interferência religiosa programática aplicada pelo ramo de atividade investigado.
As escrituras sagradas, da mesma forma que as obras literárias do mundo antigo, são representações de experiências vivenciadas ao longo da história e presentes na memória individual e coletiva dos povos e culturas. A memória das comunidades cristãs primitivas do século um ao quarto E.C, estaria presente em muitas e variadas experiências que estão presentes, mesmo como fragmentos, na redação da literatura cristã. Ressaltamos que na historiografia cristã primitiva, é abundante e essencial a apresentação de escolas e personalidades, como os representes gnósticos, que desenvolveram uma perspectiva mais ampla do Cristianismo (século II e IV d.C.), escritos, relatos e testemunhos que promulgaram a memória, os costumes e a cosmovisão de experiências cristãs adquiridas ao longo da história e de diferentes regiões geográficas. Propomos, como finalidade deste ensaio, a abrangência da linguagem e dos textos sagrados como estágios da memória e de significados das comunidades cristãs primitivas. E, para isso, as pesquisas literárias tornam-se um material de fundamental importância para a análise dessas narrativas, em que o texto religioso poderá ser decodificado e abarcado com outros significados e sentidos a partir dos distintos aspectos individuais e coletivos dos grupos culturais e religiosos, congregados no repasse de memórias ligadas pela oralidade e escritos. O texto literário é reconduzido na afinidade que se estabelece entre o leitor/receptor/auditório e a narrativa. Portanto, é o processo gerador de textos que em seu cultivo de sentidos ressignificará as identidades e implantará as fronteiras que determinarão os grupos e a auto concepção sócio-religiosa e cultural do cristianismo antigo.
As ações do cuidado pastoral acontecem no palco da história e da existência humana, que é a vida. Nela a história constrói-se a partir de um ambiente marcado pelos dramas, alegrias, desprezo pelos mais fracos e diferentes. Nesse contexto, o homem cotidiano, diante dos reveses da vida, é marcado pelos processos nos quais história e memórias se entrelaçam. Nas palavras Pierre Nora, “a memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história uma representação do passado”. Rupturas e violências registradas na memória podem resultar em dor – sempre uma experiência subjetiva e particular. As experiências traumáticas retidas nos subterrâneos da memória poderão resultar no adoecimento do corpo, o veículo fundamental da expressão humana. Numa linguagem freudiana, então, “é preciso interrogar o corpo e decifrar sua linguagem”. Por isso, faz-se necessário, percorrer os caminhos da psicossomática, buscando compreender o corpo – objetivo e subjetivo, em sua relação corpo e psique, observando o homem em sua unidade composta. Portanto, refletir sobre a pastoral da memória, objetiva evocar a relação história-memória na existência humana; re-dramatizar a dor recolhida no silêncio da memória; identificar a relação adoecimento do corpo e memória e aprofundar o conceito de psicossomática.