Abordar temas relacionados ao pensamento do filósofo Paul Ricoeur que estabeleçam diálogo com a religião. Ricoeur sempre procurou delimitar bem os temas filosóficos e teológicos e constantemente negar a nomeação de “filósofo cristão”, mantendo equidistante a sua confissão de fé e o procedimento filosófico. Parece, dessa forma, ser a filosofia a grande tarefa e instrumento do filósofo francês. Por outro lado, o mesmo abordou temáticas que são, por ele mesmo, chamadas de fronteiriças, tais como a Esperança e o Mal. Filosofia e Teologia são discursos irredutíveis um ao outro e, por isso mesmo, devem manter as suas diferenças epistemológicas claras. Além disso, menciona alguns problemas que se colocam no ponto de interseção entre o filosófico e o teológico, e que para o primeiro constituem ao mesmo tempo uma fonte e um tema. Entre eles, há dois aos quais deu uma atenção particular através de toda a sua obra: o desafio do mal e da esperança. É justamente devido à sua reflexão sobre a esperança que o filósofo francês propõe renovar o problema da relação entre filosofia e teologia, posto comumente em termos de razão e fé. Ricoeur é um dos filósofos do século XX mais pesquisados por teólogos e cientistas da religião, além de áreas afins, como História, Literatura e Psicanálise.
José Eduardo Franco (CLEPUL), Lidice Meyer Pinto Ribeiro (UPM) e Paulo Assunção (UPM)
Tema:
Os movimentos messiânicos não são uma esclusividade lusitana, pois apresentam-se em diversas partes do mundo, ocorrendo até mesmo em sociedades indígenas brasileiras. Apesar disso, a cultura portuguesa tem um grande papel na difusão de mitos e símbolos que propagaram os conceitos que se amalgamaram nas culturas formadas em suas colônias. Este Simpósio Temático portanto, agregará as comunicações sobre as principais questões e controvérsias do messianismo nos países lusófonos e seus movimentos “clássicos” e assemelhados. Também receberá comunicações sobre os movimentos messsiânicos de configuração mais recente, envolvidos com questões políticas e econômicas, que em alguma medida reproduzem a estrutura e dinâmica dos antigos movimentos messiânicos, ou que as inovam e transformam numa prospeção do milenarismo no novo milênio.
Os seus objetivos são:
– reflectir sobre os conceitos de messianismo, messias, milênio e milenarismo nas suas diversas interpretações;
– discutir as categorias envolvidas nos movimentos messiânicos dentro das suas manifestações populares;
– pensar os movimentos messiânicos da atualidade dentro das questões socio-históricas em que se desenvolvem;
– avaliar as novas formas de milerarismo dentro da perspectiva do novo milênio.
Fábio Augusto Darius (CUA-SP) e Kevin Willian Kossar Furtado (UEPG)
Tema:
O presente Simpósio Temático foi pensado a partir das pesquisas centrais de seus proponentes e suas mais diversas ramificações atuais e futuras. Almeja discutir acerca da formação integral (holística) do ser humano a partir das mais distintas fontes consideradas sagradas como os Vedas, Alcorão, Bhagavad-Gita e a Bíblia, sem excluir a perspectiva espírita. Considera também as múltiplas leituras e aplicações interdisciplinares e multiculturais hodiernas em um contexto de alguma percepção da possível falibilidade da construção do ser humano compartimentado, herança grega ainda mantida majoritariamente, cada vez mais questionada. Assim, trabalhos que apresentem esta discussão e suas implicações, como questões acerca mortalidade e imortalidade da alma, dualismo e neoplatonismo, contrapontos outros ao cartesianismo e, principalmente, integração entre o corpo físico e espiritual serão centrais e imprescindíveis dentro da perspectiva ora apresentada. Afinal, ainda que de forma incipiente e, portanto, passível de cada vez mais estudos, parece mais nítida a relação entre o equilíbrio biopsicossocioespiritual como pressuposto de espiritualidade plena. Trabalhos que questionem ou confirmem esta perspectiva também serão bem-vindos e certamente fomentarão esta tão saudável e necessária discussão.
Cristina Borges (UNIMONTES) e Admilson Eustáquio Prates (IFNMG)
Tema:
Na perspectiva de que a pós-modernidade possui natureza cambiante e que o pensamento moderno não se sustenta como único aporte teórico nas abordagens sobre as religiões, o simpósio pretende acolher temáticas que articulem a crítica pós-colonial à religião. Para tanto, considera narrativas, histórias e memórias próprias das culturas portadoras de dinâmicas híbridas e sincréticas, processos modernos iniciados com a colonização e intensificados pela globalização. Trabalhos que abordem formas de violência, intolerância, rupturas e fundamentalismos pautados pela colonialidade, envolvendo atores e instituições religiosas e trabalhos que evidenciem ações descoloniais são bem-vindos. Considerando serem os estudos pós-coloniais um movimento intelectual que empreende críticas às teorias intelectuais e linguísticas, sociais e econômicas que sustentam as formas de pensar ocidental, o simpósio também acolherá trabalhos que trazem discussões acerca do status crítico da Ciência das Religiões. Esta, ao surgir no contexto da crítica libertária europeia (Feuerbach) e da expansão do mundo ocidental que ocasionou encontros culturais e religiosos, pode ser considerada parte do projeto universal ocidental possibilitando, dessa forma, o erigir de críticas ao seu potencial de criticar ideologias.
João Luiz Carneiro (FP – SP), Érica Ferreira da Cunha Jorge (FTU – SP) e Carmencitta Ignatti (FP-SP)
Tema:
O presente simpósio temático tem como objetivo acolher comunicações e textos que dialogam sobre religião e saúde diretamente relacionados com as populações negra, afro-brasileira e luso-africana. Tendo em vista que essas populações, mesmo sendo majoritárias no espaço lusófono, são invisibilizadas pela sociedade em vários aspectos, muitos dos seus grupos recorrem a tratamentos de saúde com influência total ou parcial de experiências religiosas. Nesse sentido, as religiões afro-brasileiras, abraâmicas, espíritas, budistas, ameríndias, xamânicas, novos movimentos religiosos, entre outras, ganham relevo nesse simpósio temático quando definem ou auxiliam na compreensão e da noção de saúde/doença do adepto religioso. O simpósio temático acolherá, do ponto de vista metodológico, trabalhos interdisciplinares ou de áreas específicas como, por exemplo, teologia, ciências da religião, filosofia, ciências sociais, história, psicologia, enfermagem, medicina e áreas correlatas. Há muito a ser estudado por esta abordagem nos países lusófonos e o II CLRE será ótima oportunidade para apresentar resultados de pesquisas.
O universo académico enquanto utilizador e criador de ferramentas cognitivas de compreensão do mundo (logo de cognição) representa não só cosmovisões próprias como interfere e influencia as cosmovisões que se propõem a trabalhar. Caberá à Ciência das Religiões, enquanto projecto académico comprometido com o conhecimento e o serviço à sociedade, mostrar as diferentes formas de ciência: ciência na primeira pessoa (observador da realidade interna), ciência na terceira pessoa (observador da realidade externa)?
Este Simpósio Temático desafia os seus proponentes a reflectir sobre a ferramenta da linguagem, e sobre o serviço que o nosso actual léxico permite na compreensão do tão diversificado universo das ideias e posturas religiosas e espirituais que nos rodeia enquanto também se questiona as características e ópticas da cosmovisão da própria Ciência das Religiões.
Pretende-se reflectir sobre a epistemologia da Ciência das Religiões através da crítica a um léxico específico levando os investigadores a definir o seu próprio campo disciplinar ao mesmo tempo pretende-se que os quadros multidisciplinares dentro da Ciência das Religiões, ao definirem e reflectirem sobre um léxico, compreendam a historicidade e até o anacronismo de parte das definições usadas no trabalho do próprio objecto científico.
No advento da tecnologia e da ciência o imaginário humano expande-se construindo novas ferramentas que exploram a sua criatividade e desafiam a sua percepção e intelecto. As experiências em realidades virtuais e digitais representam mais um plano de experimentação humana.
Numa dimensão teórica, as questões levantadas na psique humana durante este processo de conquista e engenharia intelectual pode assumir várias formas, mas a mais apelativa é a da modalidade lúdica: um jogo, um software social, uma experiência cinematográfica, etc. Como construtores e habitantes de mundos novos, somos convidados a reflectir sobre os nossos padrões de comportamento e pensamento, a nossa auto-percepção e nos nossos arquétipos de inspiração: quem somos, quem parecemos ser, quem queremos ser. Que mitologias se constroem e reconstroem na cosmogonia tecnológica?
E na dimensão prática? Ainda que o exercício de experimentação de novos mundo aparente ser livre, não deixa de ser mediado pela própria ferramenta onde o universo é trabalhado. O que legitima a pergunta: que implicações tem este exercício caracterizado pela mediação tecnológica, e que especificidades assume esta ferramenta na reprodução e experimentação de narrativas religiosas numa cultura de ciência?
Este Simpósio Temático desafia os seus proponentes a reflectir sobre o universo digital e virtual, as implicações tanto teóricas como práticas da ferramenta que é mundo e é mediador.
O fenómeno dos movimentos religiosos e espirituais que irradiam das abordagens e dos conceitos New Age vai expandindo as ideias de ecletismo, autonomia, ecletismo, holístico e ocultismo. Mas se desde os anos 1970, e em especial na cultura ocidental, o crescimento deste tipo de ideologias se tem vindo a fazer representar por números maiores de adeptos, também não é menos verdade que a cultura gerada dentro destes grupos e comunidades se tem vindo a expressar para além do âmbito espiritual, e tem assumido e desenvolvido posturas e posições politicas.
Este Simpósio Temático desafia os seus proponentes à reflexão sobre o papel dos movimentos políticos e ideológicos que se constroem e reconstroem na e com esta cultura da New Age, bem como nas suas consequências dentro e fora das suas comunidades.
Rui Lomelino de Freitas (ULHT) e José Carlos de Abreu Amorim (UJP)
Tema:
Segundo Gilles Quispel a cultura Ocidental assenta fundamentalmente em três pilares: Racionalidade, Fé e Gnose. Numa perspectiva histórica, encontramos na Antiguidade e período medieval, as raízes do Esoterismo Ocidental no cristianismo gnóstico, no hermetismo, e no neoplatonismo, de onde decorrem diversas correntes assimiladas posteriormente durante o Renascimento. Estas correntes, especialmente o neoplatonismo e o universo sapiencial do Corpus Hermeticum – e as suas ciências tradicionais (alquimia, magia e astrologia) – chegaram ao mundo ocidental medieval através das culturas Islâmica e Bizantina e permitiram o desenvolvimento do Renascimento e o posterior desenvolvimento do pensamento moderno. Na atualidade, perante os achados arqueológicos do século XX (e.g. Nag Hammadi) e as traduções dos textos gnósticos, torna-se possível abordar os conteúdos filosóficos a aproximarmo-nos de uma compreensão da Gnose enquanto perspectiva e experiência existencial. Historicamente permite-nos rever concepções relativas a períodos determinantes como o Renascimento e o Iluminismo, ou, recuando ao início da era cristã, relativas a tudo o que até há décadas entendíamos por cristianismo.
Com este simpósio pretendemos estabelecer um espaço de diálogo através da partilha de investigações acerca dos quadros de compreensão / ação que os saberes, as ciências, religiões e espiritualidades, constroem dos multi-versos que ao longo dos tempos procuramos habitar.
São bem vindas a este simpósio abordagens de cariz multidisciplinar que apresentem e tragam ao debate:
– o choque de civilizações, mudança global e guerra de ciências: será possível ir além?
– até que ponto será possível fortalecer o diálogo inter-religioso, através do desenvolvimento e democratização de uma “ciência universal”?
– direitos humanos e diversidade cultural: memórias, problemáticas e desafios
– confrontos históricos e conflitos culturais entre as diferentes leituras da realidade criadas pelas diversas epistemologias e formas de viver no Norte e no Sul
– dinamismos de mudança cultural, paradigmas e utopias: lugares das ciências, das artes e das espiritualidades no diálogo das civilizações e na construção das comunidades (entre o global e o local)
– propostas e experiências educativas integradoras destas problemáticas;