III Congresso Lusófono de Ciência das Religiões
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LISBOA | 31 de Janeiro a 5 de Fevereiro de 2020

Do Apelo à Tradição à Construção de Memórias em Comunidades Religiosas de Matriz Africana

Coordenadores:

João Ferreira Dias (ISCTE-UL), Francesca Bassi (UFRB) e Valéria Amim (UESC)

Tema:

Olhar o que se designa, largamente, como tradições, reconhecendo-lhes o primado da invenção, alavanca a mutualidade e a intencionalidade político-ideológica da memória coletiva. Sob tal problemática Triaud (1999) defendia que a memória histórica, seja de que coletivo humano for, é sempre instituída, porquanto opera na coesão e no reforço de determinado alinhamento narrativo como forma de veiculação de poder. Diferentemente à memória veiculada no espaço público, encontramos a memória religiosa tal como é comunicada na vivência e nas práticas: uma memória que somente é transmitida segundo condições pragmáticas especificas (Severi 2004). Tal é particularmente evidente nas religiões afro-brasileiras para as quais a tradição e a memória forjam novos movimentos identitários e históricos. Ali, a memória opera como referência, como espaço de preservação identitária e depende também da memória individual, uma vez que historicamente baseadas na oralidade (embora cada vez menos exclusivamente) requerem o face-a-face do aprendizado e, bem assim, as latências do conhecimento remetem para a legitimidade tanto de quem ensina quanto de quem aprende. Desse modo, tanto a memória quanto o apelo e a forma como se utiliza a tradição são ‘multiversas’ (Latour 2008). Para além do “reconhecimento” que a tradição outorga existe, ainda, as tradições subterrâneas,clandestinas, pouco traduzidas e identificadas, muitas vezes tidas como ilegítimas, que introduzem outras temporalidades culturais e políticas, incomensuráveis na invenção da tradição. Processo esse que segundo Bhabha (2003) afasta qualquer acesso imediato a uma identidade original ou a uma “tradição recebida”. Assim, este simpósio pretende acolher reflexões sobre a história oral, as narrativas e práticas associadas às memórias das comunidades religiosas de matrizes africanas, sejam como lugar de preservação (os ‘lieux de mémoire’ de Pierre Nora [1989]), sejam em referência a utilizações político-ideológicas de autenticidade ou legitimidade (Capone 2004), seja ainda sobre os mecanismos pelos quais a memória se veicula e se apela nas religiões de matriz afro. Dessa forma, intentamos a um debate polifónico, marcado pela diversidade de abordagens teórico-metodológicas e de dados empíricos, espelhando, assim, a complexidade e multiplicidade de processos e usos.

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